A autodenominação do grupo é Krĩcatijê, que quer dizer “aqueles da aldeia grande”, denominação esta que lhes é aplicada também pelos demais Timbira. Seus vizinhos imediatos, os Pukopjê, a eles se referem usando o designativo Põcatêgê que significa “os que dominam a chapada“.
Devido à referência comum nas fontes históricas entre os Krĩkati e os Pukopjê, no início do século XIX o total da população dos dois grupos foi estimado por Paula Ribeiro em aproximadamente 2.000 índios. Em 1919 um censo do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) indicou uma população de 273 índios distribuídos entre as aldeias Engenho Novo e Canto da Aldeia.
Foi só a partir dos anos 60 que as populações dos dois grupos começaram a ser indicadas em separado.
A Terra Indígena Krĩkati está localizada nos municípios maranhenses de Montes Altos e Sítio Novo, a sudoeste do estado. A TI é banhada por rios e córregos das bacias do Tocantins (Lajeado, Arraia, Tapuio, entre outros) e Pindaré/Mearim. Aliás, o primeiro destes importantes rios do Maranhão tem sua cabeceira principal dentro da Terra Indígena.Em 2005, os Krĩkati habitavam em duas aldeias: São José (a maior e mais antiga) e Raiz, esta fundada poucos meses depois da conclusão da demarcação física da área em 1999. Havia ainda uma aldeia (Cocal) composta por indivíduos guajajara casados com algumas mulheres krĩkati.
Para os Timbira o tempo é visto como uma seqüência de verão (amcró) e inverno (ta’ti), ou melhor, da estação da seca (que compreende os meses de abril até setembro, aproximadamente) e da estação das chuvas (de outubro a março, aproximadamente). Estas duas estações regulam os dois períodos cerimoniais da vida social e também o conjunto das atividades produtivas. Grande parte dos ritos ligados ao ciclo anual se concentra no período da estação das chuvas, enquanto a estação seca se reserva para a realização de um dos ritos ligados à iniciação.
As festas (amji kin, literalmente: “alegrar-se”) Krĩcati, como nos demais povos Timbira, são relativas ao ciclo anual (festa do milho, da batata-doce, da mudança da estação do ano), à iniciação dos jovens, à regulamentação das relações de parentesco e interpessoais, usando as relações entre os animais como paradigma (como a festa do peixe, do papa-mel, das máscaras), as festas relativas a assunção ou a entrega da dignidade de wyty (menino ou menina ritualmente associado aos indivíduos do sexo oposto da aldeia) ou ainda as festas e pequenas cerimônias relativas ao ciclo vital de um indivíduo (fim de resguardo do casal pelo nascimento de filhos, ritos de re-introdução de alguém que ficou afastado por muito tempo do convívio na aldeia, por doença ou luto). Nestes dois últimos casos (wyty e ciclo vital), a responsabilidade pelo suprimento de comida e bens a aldeia é da casa de origem do homem ou mulher.
Estas festas exigem uma farta distribuição de alimentos, e hoje em dia algumas delas se prolongam em período de “latência” de vários meses até que a aldeia promotora possa providenciar comida e outros itens necessários para sua conclusão. Além da comida, são necessários miçangas e cortes de pano, que são oferecidos para os participantes das outras aldeias.
Cada festa é marcada pelo nome de uma tora de corrida específica e por cantos específicos – o que leva à conclusão que sem um “cantador” (incrercatê) que domine os cantos, não se pode realizar determinado ritual. As aldeias que se encontram nesta situação superam o problema “contratando” um cantador de outra aldeia do próprio grupo ou de outra aldeia Timbira.
As festas marcam assim a solidariedade necessária ao convívio nas aldeias e são momentos onde se enfatizam as regras de comportamento. Os amjkin, além de proporcionar um momento de “alegria” e descontração (pois nestes momentos os jovens têm a oportunidade de conhecer mulheres de fora, e os homens e mulheres casadas, para experimentarem relações sexuais extramatrimoniais, porém permitidas), são fundamentais para a atualização da estrutura sociocultural e para o equilíbrio das relações internas.
Portanto, as “festas” preenchem o calendário anual das aldeias quase integralmente: sempre, em qualquer período do ano, uma aldeia estará preparando uma festa, executando outra ou aguardando condições para finalizar uma outra, e a festa do Dia do Índio, a qual tivemos a honra de participar, é uma dessas importantes festas.
"... Os Krĩkati nunca abandonaram as suas antigas sedes ao leste do Tocantins, onde este rio muda sucessivamente a sua direção de sul/norte para leste/oeste, ao nascente de Imperatriz, no interior". (Nimuendajú,1946:19).
(fonte: Povos Indígenas no Brasil - http://pib.socioambiental.org/pt/povo/krikati/1621)