Paulo retorna ao escritório da empresa onde trabalha. É um renomado escritório de advocacia situado em uma avenida larga próxima ao centro da cidade, e vai direto à sala de reuniões. Como está atrasado, não perde tempo. Leva a pasta consigo porque ali estão todos os demais documentos, os quais ele precisará expor, caso a reunião se estenda por mais algum tempo além do previsto, e alguns itens da próxima pauta sejam adicionados à reunião de hoje. Ao escolher um lugar para se sentar, tira o paletó e, suado, olha para os demais colegas, só para conferir se alguém o está condenando com o olhar, ou apenas repara nas pequenas manchas de suor que lhe sobressaem na camisa. Ninguém! Aliás, apenas uma pessoa o perscruta sem lhe tirar os olhos. É Sueli, uma das melhores secretárias da empresa. E ela não está apenas acompanhando os movimentos do mais novo contratado e jovem executivo da empresa. Ela é bonita, inteligente, costuma ser agradável e gentil, mas embora já tenham ocorrido outras trocas de olhares entre os dois, algumas das atitudes da moça o incomodam. Uma delas é a incapacidade de Sueli de se vestir corretamente, inclusive para ocasiões como essa, uma reunião de caráter importante, pois se trata de uma empresa respeitada no ramo no qual trabalham.
Como Paulo é um pouco detalhista e gosta de comportamentos mais tradicionalistas, sente-se constrangido. O jogo de sedução entre os dois já dura algumas semanas. Sueli é o tipo de mulher que não descansa enquanto não consegue o que deseja, e é justamente este fator que a mantém na empresa por muito tempo. Mas afinal, qual é o problema da insistente secretária? Embora Paulo seja tradicionalista, ele percebe que outros homens, e também as colegas de trabalho, sempre cochicham entre colchetes sobre o comportamento irregular da moça. O que Sueli faz para ser tão reprovada? A moça claramente faz uso de modismos e constantemente cria situações de risco durante as investidas no rapaz. O simples fato deles se aproximarem por alguns instantes faz com que quase todos os globos oculares distribuídos pelos cantos e recantos do escritório, em diversos movimentos e ângulos, se contorçam para não perderem nem sequer um fio de cabelo que caia sobre o tailleur rosa de cetim de Sueli, que causa pavor nas colegas quando a vêem na tentativa de combiná-lo com um tamanco de madeira. Sim, porque com os desarranjos no vestuário todo mundo já estava cansado de saber que o tão necessário “desconfiômetro” não era um item que fazia parte de sua “nécessaire” marrom cintilante.
Um leve toque no ombro do colega, um olhar penetrante, do tipo “farol baixo”, e uma empinadinha na dianteira superior para mostrar os novos modelos de “botões” da camisa branca que está vestindo, uma ajeitadinha no cabelo jogando-o todo sobre o ombro esquerdo, pescoço exposto, os lábios carnudos parecendo apontar para os lábios de Paulo, como se estivessem querendo alcança-lo, a voz suave e uma pedra de gelo que ela acaba de sacar da porta-gelo e deixou levemente escorrer desde o lábio inferior até o que alguns chamam de “início do caminho da felicidade”. Paulo já mudou de cor cinco vezes! Coitado... A respiração parece mais a de um moribundo pedindo que o levem dali o quanto antes. Embora essas palavras estejam apenas em seu pensamento, quase são ouvidas pelos colegas: “Quem poderá me salvar?” As palavras estão no pensamento, mas seus gestos são nítidos, o que já é mais que suficiente para que todos percebam que ele está ao limiar de um AVCP (Acidente Vascular Cerebral Psicológico). Claro que a nova sigla foi eu quem inventou, exclusivamente para este texto, mas a situação aí é algo semelhante ao que se repete diariamente em ambientes parecidos. Pois é, resumindo a estória, não deu em nada! Paulo arranjou uma desculpa e sumiu do recinto. Deu um gelo em Sueli e ela foi vencida pelo cansaço.
Há alguns anos uma moda tomou conta entre os jovens do mundo todo. Eu diria que um tanto desconcertante para alguns, que não curtem deixar as partes íntimas à mostra, ou uma fração delas, ou até mesmo presenciar visuais espalhafatosos, semelhantes ao caso da nossa protagonista do jogo de sedução no fictício escritório de advocacia: a moda das calças abaixo das nádegas. É de fato algo fora do normal e de muito mau gosto! Andar com a bunda à mostra! Onde já se viu?! Que coisa! Alguns dizem que é mito, mas qual a verdadeira história das calças ou bermudas escorregadias? Comenta-se pelas páginas da web que esta tendência nasceu nas prisões dos Estados Unidos. Os reclusos que estavam receptivos a relações sexuais com outros homens tiveram que inventar um sinal que passasse despercebido aos guardas prisionais para não sofrerem certas consequências... Já é sabido de muitos que comunicação por sinais é comum em ambientes prisionais. Por isso, quem usasse calças caídas por baixo das nádegas, e mostrando a cueca, ou mesmo parte dos glúteos, sim, estava demonstrando que estava disponível para fazer sexo com outros homens... E assim nasceu uma moda: Um look super cool e... pra lá de gay!
“Simancol”, “Desconfiômetro”, ou quaisquer recursos que possam ser obtidos para se evitar desconforto para outras pessoas, e para si mesmo, não dispense! Faça uso desses instrumentos, metafóricos ou não... Não importa! Não permita ser motivo de chacotas e pequenas, médias ou grandes humilhações. Leve a carreira a sério e compre um espelho, mas antes, pergunte aos colegas, de preferência aqueles que você julga terem bom senso, se você não está agradando de alguma forma. Caso contrário, você poderá acabar afastando as pessoas de sua presença, afinal, com roupa ou sem roupa, o seu corpo fala!