Oratória
De todas as fobias que existem, qual delas você acha que é a pior e mais comum? Se você responder que é o medo de falar em público, então acertou em cheio! Várias pesquisas já foram feitas sobre o assunto, e sempre se comprova que as pessoas têm mesmo é medo de se expor. Seja para falar para apenas um grupo de pessoas ou para muitas, quando o assunto é fazer discurso, a maioria treme na base. É ou não é assim? Claro que é! Pois acreditem, eu já vi comunicadores experientes ficarem inteiramente suados ou em estado de confusão mental pouco antes da apresentação. Comigo já aconteceu algo assim, e não foi uma só vez. Mas eu tenho esperança que algum dia, quando eu estiver bem mais experiente, e certamente um tanto mais avançado em idade, eu vá discursar em qualquer situação sem a famosa tremedeira nas mãos, nas pernas ou nos lábios, e ainda ser rotulado com o comentário: “E lá vai o “Treme-treme”!” Eu sei que é terrível, e você já deve estar se lembrando de algum mico que teve que pagar frente a um grupo de amigos ou estranhos.
Mas por falar em ter esperança de em algum dia poder falar em público sem amarelar um só instante, posso contar um caso que aconteceu comigo durante uma palestra que ministrei no município de Parapuã, oeste do Estado de São Paulo, numa cooperativa agrícola. Isso foi no ano de 2005, e na ocasião estavam presentes oitenta pessoas, entre diretores, gerentes e funcionários. O assunto escolhido era motivação com ênfase em relacionamentos interpessoais. Antes de subir ao palco cumpri todo o protocolo que um palestrante já conhece: fazer uma sondagem, visitar a empresa, falar com o responsável pelo setor de Recursos Humanos, ser apresentado ao presidente da instituição e conhecer o local do evento. E para lhe adiantar qual era o problema que a empresa estava enfrentando naquele momento, vou explicar. A comunicação entre os funcionários e gerentes estava falhando, e por isso o feedback passou a ser negativo. Entre filiais e matriz tudo ia mal!
Portanto, isto estava prejudicando o desenvolvimento do trabalho interno e os resultados da produção. Eles precisavam, então, de uma injeção de ânimo, de alguém de fora da empresa, neutro, de preferência, que lhes dissesse que vale à pena mudar o status de impaciente para paciente, de inimigo para amigo, ou de passivo para proativo. Pensei com antecedência qual seria minha estratégia, mas o funcionário intermediário, que era o meu principal contato da empresa, adiantou-me que o problema já estava um tanto crônico. “Pois é, os colaboradores não querem colaborar", disse ele, meio irônico. Então, minha estratégia foi quebrar o gelo com uma piada. Fracasso total! Fiz mais duas tentativas, e não houve retorno. "Povo difícil esse!", pensei. E eu estava ali, em frente às oitenta pessoas, entre funcionários, gerentes, diretores, e o meu amigo e companheiro de trabalho, que naquela ocasião, depositou certa dose de confiança em mim, já que ele havia feito a indicação à empresa. Ele também estava na expectativa. Naquele momento me lembrei do presidente da cooperativa, que havia me perguntado, quando cheguei para conhecer o local, se eu iria realmente atingir a meta. Eu dei a resposta que ele queria escutar, e foi "Sim, claro, obviamente! Afinal, eu também deposito confiança em meu próprio trabalho". Mas o caso é que, depois dessa lembrança, deu-me um branco total! E eu ali... Aí comecei a me perguntar: “Meu Deus, o que é que eu estou fazendo aqui?!” E eu ali, ainda sem solução... Pronto! Foi o suficiente para a sessão treme-treme começar. As mãos suando. Uma delas na testa pra esconder a vergonha, e a outra na cintura, só pra dar aquele ar de “só um instante pessoal, eu vou dizer algo fenomenal! Mas eu ainda estava ali... E continuei a me questionar: “Poxa, como é que eu saio dessa?!” ... E eu ali, caramba!... Não contei quantos segundos levei só nisso, mas não passou de um minuto, que pareceram uma pequena partida de Brasil levando uma surra interminável da Argentina em final de Copa do Mundo.
É justamente nessas horas que o desespero e a urgência fazem a adrenalina brotar. E parece que eu sentia a dita cuja correndo pelo meu sangue e fazendo a minha mente inflar. Então veio a solução! Lembrei-me de um texto que li sobre criatividade, no qual aprendi que em ocasiões terríveis e avassaladoras como essa devemos literalmente nos desligar, nos esquecer do que está à nossa volta e nos concentrarmos na solução do problema. Então escondi ainda mais meu rosto, fechei os olhos e comecei a buscar algo em minha memória. A outra mão ainda na cintura, claro, eu não podia perder a pose naquela situação. O que surgiu foi exatamente outra dica que aquele mesmo texto me havia ensinado: “Se não há jeito, a solução é falar abertamente o que você sente”. Foi mais ou menos assim. Simples! Arriscado, mas simples. Botei a boca no trombone! Falei tudo que eu estava sentindo, mas como se fosse o presidente da empresa. E é claro que o fato de eles me colocarem naquela situação, imputou-lhes culpa quando eu reagi com o gesto de me fechar. Mão direita no rosto e mão esquerda na cintura. Isso causou constrangimento entre eles e acabaram colaborando. Logo em seguida a uma pequena, mas muito certeira a introdução iniciei um relaxamento na comunicação através de uma dinâmica simples, mas muito eficaz: a dos 5 abraços. O resultado foi espetacular! Eles estavam apenas precisando se soltar e se tocarem. Afinal, somos feitos de carne e ossos, e temos sentimentos. Aliás, lembro-me de um senhor de cabelos alvos, que estava bem à vontade vestindo uma bermuda, ser o último a se sentar. Ele deve ter abraçado mais de quinze pessoas, e a última era uma loira jovem, solteira e muito bonita. Todos riam muito dele. Eles entenderam a minha missão e corresponderam. À partir daí foi só alegria!
Ah, se tivesse caído a minha ficha cerca de dois minutos antes, eu não teria passado por tal situação. Mas o que me impressionou foi o elogio do diretor da cooperativa ao meu trabalho. E isso não tem preço! A minha avaliação sobre esse fato foi muito confortante, e percebi que em algumas situações, ao falar em público, basta comunicar esperança às pessoas. Esperança de tudo voltar ao normal, de você poder falar novamente com seu colega de trabalho, de contribuir com o crescimento da organização, e de ter sua função respeitada entre os outros... Esperança de sair de uma depressão com um gesto cordial e amigo, como um simples “bom dia, como vai você!”, ou esperança de num abraço desinteressado sentir-se amado e querido.
Meu amigo leitor, as pessoas não precisam apenas de sua presença. Elas precisam de muito mais! Coisas simples, mas espontâneas, fazem o mundo sorrir! Abrace, sorria, pergunte se está tudo bem, ofereça ajuda ou dois minutos de prosa. Conte brevemente qual a lição que você aprendeu ao escutar o último sermão em sua igreja, convide para sair com a família... Seja um comunicador de esperança, onde quer que você esteja, e certamente será lembrado não pelos micos que sofreu, ou pelos rótulos que lhe deram, mas pelo apoio que cedeu ao amigo, colega, filho, marido, irmão ou qualquer outra pessoa. Siga adiante e SUCESSO!
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